Os fundamentos filosóficos da Obra de Fernando Pessoa- António Pina Coelho

Os fundamentos filosóficos da Obra de Fernando Pessoa- António Pina Coelho

A abordagem filosófica da obra pessoana é tão legítima e válida como seria a linguística, a estética, a psicológica, a político-sociológica, a religiosa, etc. Nenhuma destas visões abrange a obra em toda a sua plenitude, revelando-a como é, mas cada uma delas chama a atenção para este ou para aquele nível, explicitando nele o que era implícito ou virtual. A clarificação geral é meta da colaboração das diversas inteligências empenhadas no aprofundamento e na focagem, em diversos ângulos, da mesma obra. Pessoa tem muito de implícito e de virtual, que se pressente, mas com dificuldade se racionaliza, e precisaria de estudiosos da categoria de um K. Barth, de um Heidegger, de um Jaspers, que tão profunda e largamente explicitaram o que profeticamente estava contido no silenciado Kierkegaard. O campo está aberto e a atenção às intuições dos artistas e dos místicos é factor eficiente para o avanço da própria filosofia, pelo que nelas há de antecipação. Pessoa é talento e ao mesmo tempo esforço. A sua obra tem a gratuidade do incompromisso e o alto preço de uma vida consumida no estudo. As novas gerações sentem-se justamente atraídas e perplexas perante a sua profundidade e transcendência. Poeta actual tanto na rapidez estilizadora das imagens, no ritmo da linguagem, como na sinceridade da indefinição e da relatividade das coisas. Optimista ou pessimista? Tem o optimismo e o pessimismo próprios dos trágicos, dos místicos que não se contentam com a quotidianidade e a superfície das coisas. Ele será o Pessoa, o máscara esfíngico, sempre novo, sempre questionador, tragicamente de olhos fixos num além indefinido.

Editorial Verbo 1971
Etiquetas: Outros géneros

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