N 8048 - Com Raiva no Coração. Ingrid Betancourt. Edições Terramar. 233 Páginas. Com o novo.
Há livros que são só um grito - "Com Raiva no Coração", de Ingrid Betancourt, é um deles. Porque foi escrito não para soar bem mas como um lamento, um protesto, uma dor, tudo coisas cruas. Tudo sinónimos de Colômbia. Aliás, o tom do escrito da senadora colombiana vem logo na capa num verso de Pablo Neruda - "mais que a cólera, mais que o desprezo, mais que o soluço", do poema "Canto às Mães dos Milicianos Mortos". "Com Raiva no Coração" é o resultado, amargo, da experiência de uma colombiana que, no dia em que soube da morte de Luís Carlos Galán, o candidato liberal morto a tiro em 1989, trocou Paris e o casamento por Bogotá e uma aventura na qual ficou atolada. E que no fim do livro se comparará ao funambulista e à perfeição, em nome da qual vale a pena perder o medo. Ela está em Paris e telefona à mãe. É madrugada. Na Colômbia ainda é dia. A mãe, do outro lado, soluça. O que foi mãe? Mataram o Galán. Soluços. "Eu devia estar aí, mãe. Eu devia estar aí." A mãe e ele eram amigos. Ela viu-o ser atingido. É aí que começa a saga de Ingrid, que num fôlego reúne amigos, recolhe assinaturas e dinheiro, volta a apaixonar-se, entra na política e no Parlamento, e no Senado, faz da ética o seu cavalo de batalha, mergulha na Colômbia de todas as sombras, de todos os tráficos, de drogas, de influências, dos sequestros, da guerra, começando por acreditar nalguns e acabando a duvidar de todos - e quase de si. "Com Raiva no Coração" é a história dessa aposta, onde Ernesto Samper, Presidente entre 1994 e 1998, suspeito de ter chegado ao poder ajudado pelos barões da droga, é retratado como uma espécie de padrinho. A tal ponto que a justiça francesa obrigou a editora original, a XO Éditions, ao registo, a abrir o livro, retomado também na edição portuguesa da Terramar, de um "protesto" do ex-chefe de Estado sobre várias afirmações que o mesmo considera "difamatórias".
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