"O Iceberg Imaginário e Outros Poemas" de Elizabeth Bishop - 1ª Edição de 2001

"O Iceberg Imaginário e Outros Poemas" de Elizabeth Bishop - 1ª Edição de 2001

"O Iceberg Imaginário e Outros Poemas"
de Elizabeth Bishop

Edição Bilingue Inglês/Português

Seleção, tradução e estudo crítico de Paulo Henriques Britto

1ª Edição de 2001
Companhia das Letras - Brasil
370 Páginas

O Iceberg Imaginário

O iceberg nos atrai mais que o navio,
mesmo acabando com a viagem.
Mesmo pairando imóvel, nuvem pétrea,
e o mar um mármore revolto.
O iceberg nos atrai mais que o navio:
queremos esse chão vivo de neve,
mesmo comm as velas do navio tombadas
qual neve indissoluta sobre a água.
Ó calmo campo flutuante,
sabes que um iceberg dorme em ti, e em breve
vai despertar e talvez pastar na tua neve?

Esta cena um marujo daria os olhos
pra ver. Esquece-se o navio. O iceberg
sobe e desce; seus píncaros de vidro
corrigem elípticas no céu.
Este cenário empresta a quem o pisa
uma retórica fácil. O pano leve
é levantado por cordas finíssimas
de aéreas espirais de neve.
Duelo de argúcia entre as alvas agulhas
e o sol. O seu peso o iceberg enfrenta
no palco instável e incerto onde se assenta.

É por dentro que o iceberg se faceta.
Tal como jóias numa tumba
ele se salva para sempre, e adorna
só a si, talvez também as neves
que nos assombram tanto sobre o mar.
Adeus, adeus, dizemos, e o navio
segue viagem, e as ondas se sucedem,
e as nuvens buscam um céu mais quente.
O iceberg seduz a alma
(pois os dois se inventam do quase invisível)
a vê-lo assim: concreto, ereto, indivisível.

---
Desde a juventude até a morte, em 1979, aos 68 anos, Elizabeth Bishop dedicou-se de modo quase exclusivo à sua arte. Deixou uma centena de poemas. Esta antologia bilíngue - organizada e traduzida por Paulo Henrique Britto - revela o trabalho poético da escritora que sempre buscou realizar sua vocação subjetivista.

Elizabeth Bishop (1911 a 1979) é um caso interessante: tendo recebido uma espécie de bolsa de viagem em 1951, ela veio ao Brasil, onde era para passar apenas 2 semanas, mas acabou ficando por 15 anos. Por aqui ela morou em Petrópolis e Ouro Preto, tendo um longo relacionamento com a arquiteta Lota de Macedo Soares e conhecendo (tanto literária quanto pessoalmente) vários poetas brasileiros, como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, entre outros.
Mas, apesar da alegria das viagens (entre a Europa, o Brasil, os EUA), sua história de vida foi bastante sofrida, com a morte do pai e a loucura da mãe, na infância, e, na idade adulta, a luta contra o alcoolismo e o suicídio de Lota em 1967. No entanto, ao contrário de tantos outros poetas de sua geração, que recorreram a um estilo altamente confessional, incluindo detalhes sórdidos de sua vida em seus poemas, Bishop ficou conhecida pelo caráter objetivo de sua poesia.

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Etiquetas: Literatura

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Raul Ribeiro

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