Trindade Coelho // In illo Tempore 1902

Trindade Coelho // In illo Tempore 1902

Autor: Trindade Coelho
Obra: In illo Tempore. Etudantes, lentes e futricas.
Editor: Livraria Aillaud
Ano: 1902
Primeira edição
Formato: encadernado
Páginas: 422-III
Desenho de António Augusto Gonçalves.

Observações: Trindade Coelho [Mogadouro, 1861 - Lisboa, 1908]
Formado em Direito na Universidade de Coimbra em 1885 (tempo esse cuja memória evoca no livro In Illo Tempore, 1902), e depois de breve período em que exerceu advocacia no Porto, decidiu-se pela magistratura, tendo sido nomeado procurador régio, sucessivamente para o Sabugal, Portalegre, Ovar e Lisboa. Revelando-se um magistrado íntegro e um homem de bem, conjugou o exercício da sua profissão com o cultivo das letras, que iniciou ainda estudante, tendo a sua passagem pelas diversas cidades em que viveu ficado assinalada pela fundação de uma série de jornais, desde A Porta Férrea e Panorama Contemporâneo, em Coimbra, à Revista Nova ou à Revista de Direito e Jurisprudência, em Lisboa.
Generoso, sonhador e entusiasta, com uma enorme capacidade de trabalho alternando com graves crises de esgotamento nervoso que o deixavam prostrado (foi na sequência de uma dessas crises que se suicidou), Trindade Coelho interessou-se pela pedagogia, pelo folclore e pelos estudos etnográficos, pela jurisprudência e pela política, para além da produção propriamente literária.
Nunca tendo sido tentado por obras de grande fôlego, é no domínio da crónica, da fábula, do conto, que se revelam os seus melhores dotes («Contos?... Foi afinal a única coisa que tentei... a única coisa que eu fiz...»). As suas histórias simples e comoventes (diz ele que o conto se deve alimentar quase exclusivamente de emoção) têm por cenário o seu torrão natal a paisagem é a do planalto transmontano com as suas árvores, os seus bichos, as suas gentes. O seu contar é ainda e essencialmente uma evocação do paraíso perdido da infância, de um lugar de certa maneira idealizado e utópico (em Os Meus Amores, que é a sua obra principal, confessa formalmente que as suas narrativas são talvez saudades).
Esta visão, que exprime a resistência de uma mentalidade predominantemente rural e tradicional ao avanço da vida urbana, é, de resto, uma constante em vários outros contistas da mesma época. Combinando habilmente este lirismo saudosista com uma exacta descrição da realidade (que o leva, por exemplo, a recriar com especial cuidado a linguagem oral e popular, sobretudo nas cenas dialogadas), o realismo de T. C. adopta uma feição particular, misto de rusticidade e delicadeza.
Trindade Coelho pode ainda enfileirar na estirpe de Castilho e João de Deus pela preocupação com o analfabetismo, publicando e até distribuindo, gratuitamente, folhetos de iniciação às primeiras letras. Na mesma linha de preocupações pedagógicas escreveu três livros de leitura e uma série de fábulas e de crónicas moralizadoras para crianças «[...] se um dia puder edificar uma escola, meto-me nela e ensino meninos», escreve ele, numa carta dirigida a Augusto Moreno, em 1902.
É ainda de salientar o fundo saber das coisas populares, reunido em O Senhor Sete, e a vastíssima correspondência, em grande parte ainda inédita, que nos dá preciosas informações não só sobre a sua vida particular como, sobretudo, das suas relações com importantes vultos da cultura da época. - in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II, Lisboa, 1990

Bom estado. Encadernação com lombada e cantos em pele. Preserva as capas de brochura, com pequenos restauros.
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memórias , coimbra.
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