POESIA José Carlos Ary dos Santos // Resumo 1972

POESIA José Carlos Ary dos Santos // Resumo 1972

Autor: José Carlos Ary dos Santos
Obra: Resumo
Editor: (Tip. Henrique Torres, Lisboa)
Ano: 1972
Primeira edição
Formato: capa mole
Páginas: 73-VI

Observações: José Carlos Ary dos Santos [Lisboa, 1937 - Lisboa, 1984]
Oriundo de uma família tradicional da alta-burguesia, com a qual rompeu, frequentou as Faculdades de Direito e de Letras de Lisboa, mas depressa trocou os hipotéticos cursos pelo universo da publicidade (ramo em que foi um criativo notável), como aconteceu com tantos dos seus pares.
As duas primeiras colectâneas, Asas (1952) e Nós, os Loucos (1953), passaram despercebidas. Teriam de passar dez anos até o seu nome chamar a atenção do público e da crítica especializada, o que veio a acontecer com a publicação de A Liturgia do Sangue (1963). António Ramos Rosa destacou então a «agilidade da sua linguagem, a irreverência e irrequietude vital que nela pulsam».
Popularizado como letrista (devem-se-lhe alguns dos maiores êxitos da música ligeira portuguesa, para cuja renovação deu o empurrão decisivo), tornou-se rapidamente um poeta best-seller. É um dos autores seleccionados por Natália Correia para a Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (1966), tristemente celebrizada pelo veredicto do Tribunal Plenário. Declamador passional de mérito indiscutível, frequentes vezes comparado a Villaret, gravou vários discos de poesia e participou de inúmeros recitais.
Escritor engagé, autor de uma poesia violentamente sarcástica, personalidade «fulgurante de mais para alguns olhos» (palavras do seu «Auto-Retrato»), acabou por ser uma vítima da normalização democrática. Com efeito, a militância no PCP (a despeito do indisfarçável «embaraço» que a sua assumida homossexualidade provocava no aparelho partidário) contribuiu para obnubilar o fulgor de uma obra injustamente subestimada pelas gerações mais novas.
David Mourão-Ferreira nunca confundiu as coisas: «mesmo quando francamente ao serviço de um ideário e de uma praxis cívica que não recusam assumir-se como tais, rarissimamente renuncia, no entanto, àqueles pendores da invenção metafórica e da recriação vocabular que constituem outra vertente da modernidade.» Terá sido certa propensão iconoclasta (mesmo ao nível dos formalismos literários) o óbice maior de uma poesia desde sempre vocacionada para o «tumulto» e a desobediência normativa, apostada como poucas na denúncia das múltiplas hipocrisias de regra.
Pouco antes da sua morte prematura (aos 46 anos), reuniu a obra canónica em 20 Anos de Poesia (1983). Em 1989, Ruben de Carvalho organizou o volume que colige o essencial da sua produção de letrista, As Palavras das Cantigas. Está representado em diversas antologias de poesia. - in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999

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literatura , poesia
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