Penso rápido- Paulo Nogueira

Penso rápido- Paulo Nogueira

O meu comando estava em transito para o Artes & Letras (ou para a Amiga Olga, já não me lembro bem quando, de repente, derrapou num concurso de televisão. Um jurado com cara de gárgula dizia mal dos trocadilhos, estigmatizam- do-os como a forma mais reles de humor. Fiquei logo de mau humor e resolvi dar-lhe o troco. Só que, como não tinha troco, vou passar-lhe um cheque. Mais precisamente, um cheque-mate. Pessoalmente, com o meu estilo figurativo, uso todas as figuras de estilo: metáforas, antíteses, sinédoques, metonimías, anacolutos, catacreses e outros palavrões que parecem aberrações sexuais de deputado inglês. Não desdenho nenhuma especiaria que ajude a condimentar o tabuleiro do leitor. Porque só usar um apito se posso usar uma orquestra sinfónica? o trocadilho é uma espécie de poética da infância (as crianças pelam-se por eles), mais ou menos como escrever malandrices na casa de banho do liceu. Mas quando bem aviado, requer acrobacias mentais, cambalhotas filológicas e uma intimidade incestuosa com a língua.

Pergaminho 1994
Etiquetas: Literatura

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