" Crónicas da Província e Intervenções Parlamentares"
de Cunha Simões

Em 1976 fui eleito Deputado para a Assembleia da República. Muito renitente em aceitar o convite, acabei depois por me entusiasmar e conquistar o que parecia impossível. Adiante. Tal como tinha previsto a Assembleia não cumpria a sua função. O P.C. impunha votos de protesto contra países estrangeiros e democraticamente todos os outros seguiam. Perdia-se imenso tempo. Na época eram milhares de contos deitados "democraticamente" para o lixo e o Povo Português desamparado, totalmente desprotegido. Passados os dois primeiros votos e quando me convenci que era um erro votá-los, imediatamente os comecei a rejeitar, embora o meu Partido os votasse. O bom do Adelino Amaro da Costa bem se esforçava por me meter na ordem.
A minha estadia na A.R quase terminou em tragédia. Em Agosto de 1979, o deputado Aires Rodrigues apresentou mais um protesto, por causa do Irão. O debate arrastou-se durante horas. Eu tentei que a direcção do meu Grupo Parlamentar pusesse termo àquele roubo de tempo ao Povo Português. Não consegui. Desesperado gritei: - "Isto não é a Assembleia da República, é a Assembleia da vergonha!"
O infeliz deputado Aires Rodrigues reagiu dizendo: - "Sr. Presidente, de facto estamos habituados ao comportamento do Sr. Deputado..." Não o deixei continuar e respondi-lhe desabridamente: - "O Sr. não é um Deputado, é a carraça do Povo Português!".
A partir deste momento foi o caos. O Presidente fechou a Assembleia e o meu Partido, em peso, conseguiu que eu saísse da casa Parlamentar para assim ter a certeza que eu não voltava ao hemiciclo e a discussão não se transformaria em duelo. A partir daquele momento tomei uma decisão inabalável. Saí do CDS. Fui imediatamente convidado por um dos grandes para entrar para a sua bancada. Recusei. Nunca mais quis saber da política e dos politiqueiros.

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