"O Caso da Capela do Rato no Supremo Tribunal Administrativo" de Francisco Salgado Zenha e Outros - 2ª Edição de 1973

"O Caso da Capela do Rato no Supremo Tribunal Administrativo" de Francisco Salgado Zenha e Outros - 2ª Edição de 1973

"O Caso da Capela do Rato no Supremo Tribunal Administrativo"
de Francisco Salgado Zenha, Francisco de Sousa Tavares, Jorge Sampaio, José Vasconcelos Abreu e José Vera Jardim

2ª Edição de 1973
Edições Afrontamento
Coleção Bezerro D'Ouro
104 Páginas

A vigília da Capela do Rato foi uma ação de protesto ocorrida na Capela do Rato, em Lisboa, em que um grupo de católicos assumiu uma posição contra a guerra colonial e contra a ditadura do Estado Novo. A vigília teve início no dia 30 de dezembro de 1972 e deveria ter-se prolongado por tempo indeterminado. No entanto, no dia 31 de dezembro a polícia de choque invadiu a igreja e deteve cerca de 50 pessoas.

No sábado, dia 30 de dezembro de 1972, na missa das 19H30 da Capela do Rato, um grupo de cristãos surpreende o celebrante, o Padre João Seabra Dinis, ao declarar publicamente que tenciona realizar na capela uma jornada de 48 horas de «greve da fome» e de reflexão acerca da guerra colonial, apelando a cristãos e não-cristãos para que se juntem à iniciativa.

No domingo de manhã, dia 31, celebram-se as missas das 11 e 12H30, durante as quais os participantes são informados do que se passa. Simultaneamente, são distribuídas em várias igrejas de Lisboa comunicados sobre o acontecimento, que apelam à adesão de mais pessoas à vigília ou a outras acções com os mesmos objectivos: «1. Romper com o silêncio acerca do problema da guerra em Angola, Moçambique e Guiné. Procurar a paz. 2. Declarar solidariedade com as vítimas da guerra».

À tarde, a reflexão continua. Cerca de 300 pessoas aprovam uma moção que parte de cinco «considerandos» que se podem sintetizar numa frase: a guerra contra os povos de Angola, Moçambique e Guiné é injusta e também vitimiza o povo português. Por esta razão, repudiam vigorosamente a política do Governo português; denunciam a atitude de cumplicidade da hierarquia da Igreja Católica; condenam a repressão sobre os trabalhadores e jovens que se manifestam contra a guerra; solidarizam-se com os povos das colónias em luta e com os portugueses empenhados na construção de uma sociedade justa; apelam a todas as pessoas conscientes que se unam na luta contra a exploração e opressão do povo trabalhador.

Por volta das 19 horas, as forças policiais começam a concentrar-se à volta da capela. Às 20 e 30, o local está cercado por dez carrinhas com polícia de choque e cães, além de viaturas de outras polícias. O trânsito é controlado e a zona encontra-se isolada. É a hora de jantar e algumas pessoas abandonam a capela para ir a casa. Por volta das 20 e 45, um comissário da Polícia de Segurança Pública (PSP) entra na capela e dá aos presentes ordem de evacuação no prazo de dez minutos. Segundo o relatório do comissário, as pessoas não acatam a ordem e começam a cantar em coro «Perdoai-lhes Senhor que eles não sabem o que fazem». Esgotado o tempo, a polícia diz aos participantes na vigília para se retirarem imediatamente. Os intimados protestam e querem saber se a PSP possui uma autorização do Patriarcado para entrar na capela. Alguns, entre as quais Pereira de Moura, permanecem sentados e resistem à ordem. A polícia arrasta-os. Cerca de 60 pessoas são levadas para a vizinha esquadra da PSP do Largo do Rato. Os suspeitos de serem líderes são conduzidos para os calabouços do Governo Civil e mais tarde para o forte de Caxias, onde ficam incomunicáveis.

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Raul Ribeiro

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